11. Sorrisos.

Atrasado. Era como nosso garoto se encontrava. "Não vou ter tempo de vê-lá", pensava. Saiu de casa as pressas, em suas contas rápidas - e erradas -, não teria mais que 10 minutos para conversar com ela. Ou observa-lá. Chegou e a encontrou lendo. Ela levantou os olhos. Sorriu. Ele sorriu. Ela voltou a ler. Ele foi ao seu banco perto da biblioteca. Passou intermináveis minutos conversando com seus amigos, vez ou outra apareciam ali, no meio de muitos garotos, algumas garotas, queriam como sempre apenas se exibir para o resto das pessoas e tentar ser aceita naquela "família" até então formada só por meninos. Bonitos. Populares. Pegadores. Malandros. Qualquer menina, por mais bonita que fosse, teria de ralar muito e mais um pouco para andar com eles.

10. Um amigo e tanto.

Era uma garota muito reservada, e seu melhor amigo, um garoto que havia se mudado para o interior da cidade, aconselhou-a, dizia: "Você acabou de o conhecer, espera um tempo pra saber se está apaixonada, tipo uns 30 anos. Sério. Meninos não prestam. Sei disso porque sou um" e eles riam. Ele estava certo em partes. A garota o ouvira, claro. Ele era seu único e melhor amigo desde sempre, sempre sabia como ajuda-lá. Ela levantou, fez o que tinha que fazer, pegou uma maçã, se despediu dos pais e saiu. Foi comendo a maçã no caminho, acompanhada de um livro. "Querido John" era seu livro preferido. Chegou na escola e foi direto ao seu lugar de sempre. Olhou no relógio. Chegara cedo demais. Muito, muito cedo. Uns funcionários passavam e lhe cumprimentavam, ela sorria de volta. Sempre lendo. Os primeiros estudantes começaram a aparecer. Dessa vez ela não os observou, continuou lendo, vez por outra se distraia nas risadas, mas voltava a ler.

9. Observando.

Observou a garota por duas semanas, durante a entrada e o intervalo: sempre sozinha. Lia ou ouvia músicas de vez em quando. Nosso garoto pensou em várias formas de ir falar com ela, mas nunca sabia o que dizer ao certo. Até que um dia, poucos dias antes da primeira conversa deles, ele percebeu que ela também o observava. Não como ele fazia. Ela era discreta. Observava-o poucas vezes, não demonstrava interesse algum nele. Ele percebia isso. Ela sabia que ele percebia. Evitavam qualquer contato visual que durasse mais de 2 segundos. E assim eles começaram a fazer história. A escola os apelidou de "o casal observador". Um sempre a observar o outro, mas sem ser correspondido. Dia desses, ele foi falar com ela. (Convenhamos, já lhe contei essa parte). O fim de semana passou lento, como uma tartaruga numa estrada infinita. E chegou a segunda-feira. Ela já nem lembrava mais dele, quer dizer, nem tanto.

8. Será que vale?

Procurou um banco e sentou-se. Soube na hora porque todos os outros daquela fileira estavam vazios: o vento entrava pelas grades do portão, deixando qualquer um congelado. Ela preferiu não se mover. O garoto a observava quando seus colegas chegaram. "E aí, cara", começou um deles, "já viu a carne nova?" e eles riram. Ele sentiu uma sensação estranha. Não riu. "Já, já vi", tentou mostrar indiferença, mas só ele e Deus sabiam o que estava acontecendo dentro dele, "deixem-a em paz, ela até que é bonita, não precisa de um presente de boas vindas". Eles riram se lembrando do que faziam às garotas "feias" que entravam no território: infernizavam a coitada durante uma semana, para depois fazê-lá cair em esquecimento profundo. Nosso garoto é um desses metidos a cheios de marra, donos do mundo. Aposto que na sua escola tem alguns como ele. Mas ele estava disposto a mudar pela nossa garota. Não agora. Nada de se precipitar. Ele, antes de tudo, ia ver se ela valia a pena.

7. Ela é perfeita!

Era uma tarde chuvosa e fria, estudantes chegavam mal-humorados, molhados, xingando o tempo. Como se adiantasse algo. Nosso garoto se encontrava num banco, perto da biblioteca, onde tinha perfeita visão do pátio e de todos que ali estavam. Algumas pessoas passavam e o cumprimentavam, como sempre; afinal de contas, estudava lá há 9 anos, conhecia e participara de todos os momentos daquela escola, consequentemente, conhecia todos por ali. Mantinha os olhos no portão, a fim de observar todos que entravam, quando a viu: uma garota estranha por ali, seus cabelos soltos, voando, ritmados pelo vento; ela fechou o guarda-chuva preto com bolinhas brancas, tirou a capa de chuva e entrou. Olhou todos ao redor. Todos a olhavam. "Carne fresca!", pensavam os meninos. "Concorrência!", pensavam as meninas. "Ela é perfeita!", pensou nosso garoto. A garota não se importou... Ou fingiu não se importar.

6. Lembranças.

A noite barulhenta impossibilitava a garota de dormir. Ou será que era o garoto que conhecera mais cedo? Ela não sabia ao certo. E nem se importava. A mãe entrou no quarto. "Quem era o garoto com quem conversava no portão?" ela decidiu rapidamente se contava ou não. "O conheci hoje, na escola, ele só estava sendo legal. Todos eles são bem legais". A mãe sorriu. Deu-lhe um beijo de boa noite e saiu do quarto. Era impossível dormir. Ficou pensando nele. Será que ele fazia o mesmo? Sabemos, claro, que foi uma pergunta retórica. O garoto não a tirara do pensamento desde o momento em que se despediram. Ele estava apaixonado por ela. Lembrava perfeitamente de seu primeiro dia na escola.

5. Ela será minha.

"Hm... Obrigada por me trazer até aqui." ela disse e estendeu o braço para pegar a bolsa. Ele a entregou. "O prazer foi todo meu. Tenha uma boa noite e um bom final de semana.", ele olhou para ela. Ela sorria. "Igualmente. Não quer entrar? Você sabe, pode começar a..." um trovão a interrompeu, e logo começou a chover. Uma tempestade. "... chover" ela terminou de falar e ele a olhou, os dois encharcados. "É melhor eu ir", ele disse, sabendo que seu pai já deveria estar preocupado. "Espere um momento, por favor." ela disse e correu para dentro; voltou segundos depois embaixo de um guarda-chuva, carregava outro nas mãos, ofereceu ao garoto. "Leve, para o caso de você morar longe ou a chuva aumentar, se isso for possível"... Ele pegou o objeto, abriu, desejou-lhe novamente um "boa noite", recebendo em troca um sorriso e partiu. Nunca estivera tão feliz em toda sua vida. Conhecera a garota de sua vida. Será que ela pensava o mesmo? Ele não se importava com isso. "Ela será minha" pensou.